quinta-feira, 3 de junho de 2010

Entendendo Belo Monte...

Após uma batalha judicial que fez com que fosse suspenso por duas vezes, o leilão para decidir qual consórcio seria o responsável pela construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte foi finalmente realizado nesta terça-feira, com a vitória do grupo liderado por Queiroz Galvão e Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf).
Criticada por ambientalistas e representantes de movimentos sociais e encarada pelo governo Lula como projeto prioritário no setor de energia, a Usina Hidrelétrica de Belo Monte está no centro de uma polêmica.
Enquanto o governo afirma que a nova usina, que tem previsão para entrar em funcionamento em 2015, pode beneficiar 26 milhões de brasileiros, críticos argumentam que o impacto ambiental e social da instalação de Belo Monte foi subestimado e apontam para uma suposta ineficiência da hidrelétrica.
A BBC Brasil preparou uma série de perguntas e respostas que explicam a polêmica em relação à usina.
O que é a Usina Hidrelétrica de Belo Monte?
Com projeto para ser instalada na região conhecida como Volta Grande do Rio Xingu, no Pará, a Usina de Belo Monte deve ser a terceira maior do mundo em capacidade instalada, atrás apenas das usinas de Três Gargantas, na China, e da binacional Itaipu, na fronteira do Brasil com o Paraguai.
De acordo com o governo, a usina terá uma capacidade total instalada de 11.233 megawatts (MW), mas com uma garantia assegurada de geração de 4.571 MW, em média.
O custo total da obra deve ser de R$ 19 bilhões, o que torna o empreendimento o segundo mais custoso do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), atrás apenas do trem-bala entre São Paulo e Rio, orçado em R$ 34 bilhões.
A usina deve começar a operar em fevereiro de 2015, mas as obras devem ser finalizadas em 2019.
Qual a importância do projeto, segundo o governo?
Uma das grandes vantagens da usina de Belo Monte, de acordo com o governo, é o preço competitivo da energia produzida lá.
O consórcio Norte Energia venceu o pregão ao oferecer o preço de R$ 78 pelo megawatt-hora (MWh) produzido em Belo Monte, um deságio de 6,02% em relação ao teto que havia sido estabelecido pelo governo - que era de R$ 83 por MWh.
Segundo o presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energética, Mauricio Tolmasquim, este teto do governo já representava pouco mais que a metade do preço da energia produzida em uma usina termelétrica, por exemplo, com a vantagem de ser uma fonte de energia renovável.
Além disso, a construção de Belo Monte deve gerar 18 mil empregos diretos e 23 mil indiretos e deve ajudar a suprir a demanda por energia do Brasil nos próximos anos, ao produzir eletricidade para suprir 26 milhões de pessoas com perfil de consumo elevado.
Quem são os grupos contrários à instalação de Belo Monte e o que eles argumentam?
Entre os grupos contrários à instalação de Belo Monte estão ambientalistas, membros da Igreja Católica, representantes de povos indígenas e ribeirinhos e analistas independentes.
Além disso, o Ministério Público Federal ajuizou uma série de ações contra a construção da usina, apontando supostas irregularidades.
Coordenador de um painel de especialistas críticos ao projeto, Francisco Hernandez, pesquisador do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, afirma que a instalação de Belo Monte provocaria uma interrupção do rio Xingu em um trecho de cerca de 100 km, o que reduziria de maneira significativa a vazão do rio.
"Isso causará uma redução drástica da oferta de água dessa região imensa, onde estão povos ribeirinhos, pescadores, duas terras indígenas, e dois municípios", diz Hernandez, que afirma que a instalação de Belo Monte também afetaria a fauna e a flora da região.
Além das questões ambientais, alguns críticos apontam que a usina de Belo Monte pode ser ineficiente em termos de produção de energia, devido às mudanças de vazão no rio Xingu ao longo do ano.
Segundo Francisco Hernandez, dependendo da estação do ano, a vazão do rio Xingu pode variar entre 800 metros cúbicos por segundo e 28 mil metros cúbicos por segundo, o que faria com que Belo Monte pudesse produzir apenas 39% da energia a que tem potencial por sua capacidade instalada.
Como o governo responde a essas críticas?
De acordo com o diretor de Licenciamento do Ibama, Pedro Bignelli, uma das condicionantes impostas na licença prévia para o empreendimento determina que seja mantida uma vazão mínima no rio.
Além disso, ele afirma que há projetos de preservação da fauna e flora e que as comunidades que forem diretamente afetadas serão transferidas para locais onde possam manter condições similares de vida. Ele também nega que as comunidades indígenas serão diretamente atingidas.
Já em relação à eficiência, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Mauricio Tolmasquim, admite que Belo Monte não produzirá toda a energia que permitiria sua capacidade instalada, mas afirma que, mesmo assim, a tarifa será competitiva o bastante para justificar sua instalação.
Segundo ele, o motivo para a redução na produção de energia está nas modificações feitas no projeto para diminuir o impacto da usina na região.
Qual o histórico do projeto?
As prospecções a respeito do potencial de geração de energia da Bacia do Xingu começaram nos anos 1970, e, na década seguinte, havia a previsão da construção de seis usinas na região, entre elas Belo Monte.
Após protestos de líderes indígenas e de ambientalistas, o projeto de Belo Monte foi remodelado e reapresentado em 1994, com a previsão de redução da área represada, o que evitaria a inundação de terras indígenas.
Depois de uma série de idas e vindas, o Conselho Nacional de Política Energética definiu em 2008 que a usina de Belo Monte seria a única a explorar o potencial energético do Rio Xingu.
Em fevereiro de 2010, o Ibama concedeu a Licença Prévia para Belo Monte, impondo uma série de 40 condicionantes socioeconômicas e ambientais ao projeto.
No dia 20 de abril foi realizado um leilão para decidir qual grupo de empresas seria o responsável pela construção da usina, com a vitória do consórcio Norte Energia, liderado pela construtora Queiroz Galvão e pela Chesf.
Como foi o leilão?
O governo havia estabelecido que o vencedor do pregão seria o grupo que oferecesse o menor preço para a produção do megawatt-hora (MWh) de energia em Belo Monte, respeitando-se o teto estabelecido de R$ 83 por MWh.
O preço oferecido pelo grupo vencedor foi de $ 78 pelo megawatt-hora (MWh), um deságio de 6,02% em relação ao teto que havia sido estabelecido.
Já o valor oferecido pelo consórcio derrotado, que era formado por seis empresas e liderado pela construtora Andrade Gutierrez, não foi divulgado.
De acordo com a Aneel, o leilão durou aproximadamente sete minutos, sendo realizado apenas após a cassação de uma liminar da Justiça Federal do Pará que havia determinado sua suspensão.
Até a semana passada, apenas o consórcio liderado pela Andrade Gutierrez estava oficialmente no páreo, após a desistência do grupo encabeçado por Camargo Corrêa e Odebrecht, no início de abril.
A desistência acendeu a luz amarela no governo, que lançou um pacote de medidas para estimular a participação privada no leilão, entre elas, um desconto de 75% no imposto de renda da usina nos primeiro dez anos de operação, além da ampliação para 30 anos do prazo para o financiamento pelo BNDES, que pode financiar até 80% da obra.
Além disso, os dois consórcios contam com participações bastante relevantes de empresas estatais.
*Colaborou Paulo Cabral, da BBC em Brasília

quarta-feira, 28 de abril de 2010


Minorias e equidade

 
Tecnicamente, as minorias são compostas por aqueles que não representam a maioria em um sistema social ou político. Diversos e variados grupos sociais minoritários se definem a partir de sua identidade étnica, regional, sexual, política ou religiosa. Não apenas uma identidade positiva, compartilhada por seus membros, define a minoria: em geral, os interesses, valores ou necessidades desses grupos não coincidem com os correlatos para a maioria dos membros da sociedade, o que gera a busca de espaço e preservação de identidade, por parte desses grupos. Assim, alguns religiosos podem defender seu direito de guardar um determinado dia da semana ou de exercitar determinado ritual, mulheres requerem salários iguais aos homens em posições semelhantes e índios desejam a demarcação de suas terras, a despeito de não representar, isso, uma necessidade ou uma norma válida para a maioria dos membros da sociedade. Minorias, em geral, são pensadas como tendo uma permanência ou um longo tempo de vida na sociedade; seu estabelecimento ou a institucionalização dos meios de integração do grupo no conjunto da sociedade dão reconhecimento aos grupos minoritários.
Em geral, é a própria discriminação ou segregação que aglutina as minorias, dando-lhes identidade: marcando suas necessidades, um tipo de merecimento ou de tratamento diferenciado em relação à maioria, assim se definem. Dessa oposição surge a importância das minorias de se organizarem: apenas estabelecendo suas posições politicamente é que uma minoria deixa de ser excluída ou minimiza o impacto dos conflitos existentes entre seus interesses e os dominantes, em relação aos quais os grupos minoritários necessitam, em geral, de proteção legal que assegure que seus pontos de vista sejam considerados no cotidiano e representados nos parlamentos - esse último, tema sempre presente nas discussões sobre eleições ou reformas eleitorais.
Vale reforçar o sentido específico das minorias sociais, que não é estritamente aritmético: as mulheres podem ser maioria estatisticamente num país, mas constituírem uma minoria nesse sentido que apresentamos. Os palestinos, da mesma forma, são maioria numérica na Cisjordânia, mas constituem minoria religiosa diante do Estado de Israel, que reclama o território. Por outro lado, coincide aritmeticamente a minoria de imigrantes africanos na Europa continental, que enseja calorosas discussões sobre a percepção de políticas sociais do Estado, tais como auxílio-desemprego ou assistência à saúde, por exemplo, em concorrência com os cidadãos franceses ou italianos.
Organizadas, as minorias reivindicam justiça e contestam determinadas regras por serem delas excluídas e, na defesa dos seus interesses, movimentam a sociedade em torno de novos padrões de direitos e de sociabilidade. Os movimentos sociais são expressões de causas das minorias (homossexuais, de mulheres, de imigrantes, etc.), e dão um sentido particular às noções de cidadania e de democracia.
Isso nos leva à questão da equidade. E, para falarmos em equidade, precisamos relembrar uma doutrina social antiga, porém também atual, controversa e polêmica: a do “igualitarismo”, porque, em sentido mais simples, a equidade equivale à igualdade de direitos e privilégios para todos os cidadãos de um Estado, no que ela se confunde ainda com o princípio da “isonomia”.
No entanto, há interpretações conflitantes sobre o que significa a “igualdade”, na prática. Duas grandes correntes podem ser identificadas nesse sentido: a primeira afirma que o igualitarismo significa que todos os direitos políticos de todos os adultos devem ser os mesmos; a produção dessa igualdade estaria relacionada ao acesso à política, ao sufrágio e à igualdade perante a lei, sem a utilização de critérios étnicos, religiosos, sexuais ou sociais de quaisquer outros tipos. Em relação à proteção legal, “todos os homens são iguais perante a lei” é um bordão que está presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada por Resolução da ONU em 1948, e que foi adaptado em vários textos constitucionais nacionais.Note que a garantia desse tipo de igualdade exige, no mínimo, um sistema legal que tenha regras processuais claras e que permita a oitiva dos réus no julgamento de direitos. De difícil alcance na prática, a igualdade formal que essa abordagem propõe significa pouco em contextos de desigualdades marcantes em aspectos tais como educação, renda, etc.
Em segundo lugar, temos a definição de igualitarismo em termos de “igualdade de oportunidades”, o que significa que, a despeito da situação socioeconômica na qual alguém nasce, ele terá as mesmas chances de qualquer outro de desenvolver suas habilidades e de adquirir qualificações que lhe serão úteis, especialmente, na conquista de um bom emprego. Isso requer, definitivamente, um sistema público de bem-estar social e educacional, que proveja aos menos favorecidos as condições básicas de competição com aqueles de background mais favorável. A mais básica das igualdades, a “de oportunidades”, se aproxima da justiça social, pois prega que o Estado deve prover oportunidades livres de vieses ou condicionantes relacionados a características individuais. Na prática, infelizmente, nenhum Estado contemporâneo pode afirmar ter alcançado esse objetivo, embora a maioria diga persegui-lo. A ideia de discriminação positiva, ou “ação afirmativa”, segundo a qual àqueles sabidamente com menores chances e prestígio no passado sejam dadas chances “extra” no presente, surgiu nos EUA como uma forma de compensação à injustiça social; tema polêmico, questiona-se se os efeitos dessas políticas são de fato compensatórios, se apenas amenizam um problema moral das sociedades, ou se, inversamente, criam uma nova forma de desigualdade ou preconceito.
O fato é que a noção de “equidade” se relaciona mais proximamente com essa ideia de justiça social do que com o conceito geral de igualdade, que é comumente apresentado como seu sinônimo.
O Direito moderno utiliza uma forma de aplicação das leis que consiste em aplicar a casos semelhantes uma orientação uniforme e construída pela história e pela jurisprudência. Equidade, para o Direito, é uma tentativa de adaptação das normas legais com vistas a potencializar a justiça das leis, conforme os casos concretos que se apresentam. Em outras palavras, a equidade corresponde ao tratamento desigual, perante o Estado, de indivíduos ou grupos ou situações desiguais.
VEJA ALGUNS DOS DIREITOS HUMANOS ELABORADOS NA RESOLUÇÃO DA ONU DE 1948 E ABSORVIDOS PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE 1988:
Declaração Universal dos Direitos Humanos - Art. 1.º: Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.
CF/88 - Art. 5.º: Todos são iguais perante a lei, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (…)
Declaração Universal dos Direitos Humanos - Art. 2.º: Todo homem tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
CF/88 - Art. 5.º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
- homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
- é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
- são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;
(…)
Declaração Universal dos Direitos Humanos - Art. 11: Todo homem acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias a sua defesa. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.
CF/88 - Art. 5.º: XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu
Declaração Universal dos Direitos Humanos - Art. 13: Todo homem tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. Todo homem tem direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.
CF/88 - Art. 5.º: XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
Art. 14: Todo homem, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e gozar de asilo em outros países. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Declaração Universal dos Direitos Humanos - Art. 15: Todo homem tem direito a uma nacionalidade. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.
CF/88 - Art. 12: São brasileiros:
- natos: (…)
II - naturalizados: (…)
§ 2.º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.

Zoom Salve Geral

Trailer Salve Geral - OFICIAL

Fantástico - A polêmica Usina de Belo Monte - 25/04/10

domingo, 4 de abril de 2010


TELEANÁLISE


MALU FONTES


O OVO DA SERPENTE

O atentado terrorista mais devastador da história caminha para completar sua primeira década. Após o 11 de setembro de 2001, quando as emissoras de televisão de todo o mundo repetiram ininterruptamente as imagens surreais das torres gêmeas explodindo em chamas, fumaça e poeira no ar em Nova Iorque por aviões cheios de gente e combustível, arremessados por terroristas contra um dos símbolos mais caros do capitalismo, a geopolítica mundial nunca mais parou de experimentar estertores. A conseqüência política mais visível foi a invasão do Iraque. As conseqüências subliminares até hoje são esquadrinhadas e já são em quantidade suficiente para preencher desde as paranóias mais esdrúxulas ao medo mais concreto de todo o mundo, sobretudo entre os países mais poderosos do ocidente.

Depois do 11 de setembro, outros ataques de menores proporções, mas igualmente cruéis e violentos elegeram o metrô de Londres, o sistema ferroviário de Madri e hotéis no Egito e no Marrocos. Nesta semana as imagens mais importantes, em escala global, na TV mundial mostravam pessoas mortas, sangrando ou sendo socorridas em duas estações de metrô em Moscou, o segundo do mundo em movimentação diária de pessoas, ficando atrás apenas do metrô de Tóquio, no Japão.

VIÚVAS – É fato que as viúvas negras, como são chamadas as mulheres bombas russas ligadas a guerrilheiros separatistas das províncias insatisfeitas com o governo de Moscou, que se auto-explodem em estações, matando e ferindo mais de 100 pessoas são apresentadas ao mundo como personagens da política interna do país, no caso do separatismo checheno ou caucasiano. No entanto, é impossível que um fato dessa natureza não convide o telespectador a revisitar a idéia de ameaça que paira sobre o mundo desde o 11 de setembro.

Os auxiliares mais próximos do governo Bush filho afirmavam, assertivos, às vésperas da e após a invasão norte-americana do Iraque, que os Estados Unidos só voltariam para casa quando cada norte-americano pudesse dormir em paz e sem medo. Rememorando hoje tais declarações, diante de um episódio aqui e outro acolá de terrorismo, relacionado ou não à Al Qaeda e ao Islã, o fato é que qualquer telespectador de bom senso sabe que a volta do sono tranqüilo, sobretudo dos poderosos do mundo geopolítico, está longe de ser possível. O Iraque virou um detalhe passível de toda e qualquer desconstrução. O problema é o inominável e o desconhecido, a ameaça sem origem nem lugar.

GUERRA DE GENTE - Se antes, lá pelos idos dos anos 70, os telejornais e reportagens especiais davam indícios de que todo o mundo poderia ir pelos ares se um americano ou um russo apertasse um de seus botões bélicos da guerra fria, o panorama hoje parece muito mais assustador, uma vez que nem à prevenção se presta. Se antes, sentados sobre o trono do poder mundial, estavam líderes em tese ainda supostamente sensíveis a argumentos quanto à perspectiva de destruição do mundo, hoje os riscos são do tipo varejistas e encenados por gente que quer mais é ver o mar pegar fogo para deliciar-se com peixes cremados.

Se antes a guerra era entre os poderosos, hoje ela é protagonizada por insanos em nome do fundamentalismo, da performance, do terror sem limites e da repercussão de suas causas nos meios de comunicação. Se, a cada ameaça ou episódio terrorista, um país usar como contra-ataque a invasão do outro de onde vêm seus hipotéticos inimigos, o que há hoje escondido sob os mantos do multiculturalismo não é senão um ovo de serpente gestando e prestes a eclodir uma sucessão de guerras inacabáveis, não entre governos e estados, mas uma guerra indiscriminada de gentes.

SERPENTE - Nessa perspectiva de confronto e enfrentamento de gentes, pela via do terror, se há hoje um país com medo, tanto quanto os Estados Unidos, que já experimentaram o ódio vindo de nenhum lugar específico, é a França. Até agora se mantendo ao largo dos ataques terroristas, os franceses assistem, entre a tensão e a indiferença alienada, à fermentação de um caldeirão interno cuja pólvora é a extrema direita xenófoba e os migrantes mulçumanos insatisfeitos com a laicidade do estado, que não tolera, entre outras coisas, meninas e mulheres com burca ou xador nas escolas públicas. Para entender o tamanho do problema, o filme O dia da saiaé emblemático.

Se cada grande potência invadir o território alheio até que todos os seus cidadãos durmam tranqüilos e sem medo, conforme a máxima bushiana quando da invasão do Iraque, preparemo-nos todos para uma guerra insana, não a terceira, mas a do extermínio disseminado, onde ninguém admite nem tolera a existência do outro. Cenas como as das viúvas negras de Moscou, em nome do Cáucaso ou da Chechênia, e respostas como a do governo russo, que promete exterminar o que chama de vermes assim que arrancá-los das trevas, são, tão somente, o anúncio mais assustador da eclosão, não de um ovo de uma serpente, mas de um mundo inteiro sob o domínio delas.


Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto originalmente publicado no jornal A Tarde/SSA-BA, em 04 de abril de 2010.

quarta-feira, 24 de março de 2010


Haití


Visita de Bush desperta suspeitas entre os haitianos

Porto Príncipe (Prensa Latina) Os ex-presidentes dos Estados Unidos William Clinton e George W. Bush chegaram nesta segunda ao Haiti para uma visita de um dia em meio a sentimentos opostos pela presença do segundo, que não goza de muitas simpatias nesta capital.
 
 Ambos os ex-presidentes criaram a Fundação Clinton-Bush, com o objetivo de arrecadar ajuda para o país caribenho, cuja capital e cidades próximas foram açoitadas por um devastador terremoto no dia 12 de janeiro deste ano.
 
O referido terremoto deixou mais de 220 mil mortos, 300 mil feridos e mais de um milhão de desabrigados, boa parte dos quais ainda carecem de barracas de campanha onde possam resguardar-se.
 
Clinton, que visita o país pela segunda vez depois do terremoto, e Bush se reunirão com membros do governo haitiano e com pessoal que fornece assistência aos atingidos, com o objetivo de garantir a reconstrução da nação, em longo prazo.
 
Até agora, a fundação de ambos os ex-presidentes arrecadou 36 milhões de dólares para o Haiti, mas nem mesmo assim Bush é bem visto por uma parte dos haitianos, que acham que cada um de seus gestos leva algo oculto.
 
Pierre Jaraque, um dos centenas de haitianos que manejam um tap-tap (os pitorescos meios de transporte) nesta capital acredita que "George Bush tenta limpar sua imagem, depois de muitos anos nos quais quis pisotear os haitianos".
 
"Agradeço tudo que tente para ajudar meu país, mas há vezes que tenho que suspeitar, porque se nunca teve boa vontade, como a vai ter agora, no momento em que menos pode fazer", comenta Jaraque.
 
Em um país onde instalou mais de 13 mil soldados estadunidenses, Virgine Cicé, que dava aulas de aritmética em uma das escolas destruídas pelo terremoto, considera que o outrora presidente "não é bem-vindo no Haiti".
 
"Ele, Bush, conspirou contra os haitianos e fez todo o possível por retirar o (ex) presidente (Jean Bertrand) Aristide do poder. Agradeço-lhe a ajuda, mas certamente vem rodeado de muitos guarda-costas, porque tem medo", recordou Cicé, que busca agora um emprego.
 
A Fundação Clinton-Bush foi criada por iniciativa do inquilino atual da Casa Branca, Barak Obama, que enviou ao Haiti 23 mil soldados após poucos dias do terremoto, boa parte dos quais se preparam para perpetuar nos arredores desta capital.
 
Enquanto isso, milhares de haitianos buscam ainda um lugar onde resguardarem-se durante a próxima temporada de chuvas ou de furacões, que inicia no dia 1 de junho, e muitos outros buscam emprego em uma capital onde centenas de milhares de edificações foram destruídas.
Noticia interessante...


Oriente Médio


As riquezas do Irã em gás natural: EUA miram a principal energia do mundo futuro

Por Finian Cunningham [*]
 
O arranque programado para este mês dos furos da China National Petroleum Company (CNPC) do campo de gás de South Pars, no Irã, poderia ser tanto um arauto como uma explicação de desenvolvimentos geopolíticos muito mais vastos.
 
Antes de mais nada, o projeto de US$5 bilhões – assinado no ano passado após anos de arrastamento da parte dos gigantes da energia ocidental Total e Shell sob a sombra das sanções dos EUA – revela o principal sistema arterial da futura oferta e procura mundial de energia.
 
Muitos críticos há muito suspeitavam que a razão real para o envolvimento militar dos EUA e de outros países ocidentais no Iraque e no Afeganistão é controlar o corredor energético da Ásia Central. Até agora, o foco parecia ser principalmente o petróleo. Há por exemplo afirmações que um planeado pipeline do Mar Cáspio para o Mar Arábico através do Afeganistão e do Paquistão é o prêmio principal por trás campanha militar aparentemente fútil dos EUA naqueles países.
 
Mas o que mostra o partenariado CNPC-Irã é que o gás natural é prêmio principal que será essencial para a economia do mundo, e especificamente o fluxo de duas vias deste combustível para o Leste e Oeste da Ásia Central rumo à Europa e à China.
 
Michael Economides, editor do Energy Tribune de Huston é um dos numerosos observadores da indústria que está convencido de que o gás natural ultrapassará o petróleo como a principal fonte primária de energia, não apenas nas próximas décadas como ao longo dos próximos vários séculos.
 
Ele destaca a recente previsão da International Energy Agency (IEA), com sede em Paris, que reviu dramaticamente em 100 por cento as suas estimativas das reservas globais de gás natural. Economides atribui este enorme aumento a rápidas melhorias tecnológicas em extrair de campos de gás até agora inacessíveis. Afirma que a IEA estima quantidades de gás natural para 300 anos de abastecimento da atual procura mundial. "Se alguém simplesmente fantasiar quaisquer contribuições futuras de ordens de grandeza dos maiores recursos na forma de hidratos de gás, é fácil ver como é quase certo que o gás natural evolua até ser o primeiro combustível da economia mundial", acrescenta.
 
A importância crescente do gás natural como fonte de energia tem sido firme e inexorável desde há muitos anos. Entre 1973 e 2007, a contribuição do petróleo para a oferta mundial de energia caiu de 46,1 por cento par 34,0 por cento, com o aumento da utilização de gás natural a colmatar aquele declínio, segundo a IEA. Outras fontes, tais como a Energy Information Administration (IEA), com sede nos EUA, prevêem que o consumo de gás natural triplicará entre 1980 e 2030, data em que mais provavelmente tornar-se-á a fonte de energia primária preferencial para as necessidades industriais e públicas.
 
Há razões sólidas para o gás natural (metano) estar a tornar-se o rei dos combustíveis fósseis. Em primeiro lugar, tem um poder calorífico muito maior do que o petróleo ou o carvão. Ou seja, mais calor produzido por unidade de combustível. Em segundo lugar, é o combustível mais limpo, pois emite 30 por cento menos dióxido de carbono [NT] em comparação com o petróleo em comparação com o petróleo e 45 por cento menos em comparação com o carvão. Em terceiro lugar, o gás é mais eficiente para o transporte, tanto como matéria primária forma comprimida ao longo de pipelines enterrados como combustível para veículos.
 
Todas as agências de energia reconhecem que as primeiras fontes do gás natural do futuro estão no Oriente Médio e na Eurásia, incluindo a Rússia. A EIA com sede nos EUA coloca as reservas de gás natural nestas regiões como nove a sete maiores do que aquelas no total da América do Norte – as quais são uma das principais fontes deste combustível.
 
Dentro do Oriente Médio, o Irã é sem dúvida o principal possuidor de reservas de gás. O seu campo de South Pars é o maior do mundo. Se convertido em barris de petróleo equivalentes, o South Pars do Irã tornaria diminutas as reservas do campo petrolífero de Ghawar, na Arábia Saudita. Este é o maior campo de petróleo do mundo e, desde que entrou em operação em 1948, Ghawar tem sido efetivamente o coração pulsante do mundo para o abastecimento de energia primária. Na era que se aproxima de domínio do gás natural sobre o petróleo, o Irão retirará à Arábia Saudita da condição de principal fornecedor de energia do mundo.
 
Tanto a Europa como a China posicionam-se para serem rotas tronco para o gás iraniano e da generalidade da Ásia Central. A infraestrutura já está a moldar-se para refletir isto. O gasoduto Nabucco está planejado para fornecer gás do Irã (e do Azerbaijão) via Turquia e Bulgária transportando-o para a Europa Ocidental (assinalando um fim ao domínio russo). O Irã também exporta gás via gasodutos separados para a Turquia e a Armênia e também está a procurar negócios de exportação com outros países do Golfo, incluindo os Emirados Árabes Unidos e Oman. Outra rota principal é o chamado gasoduto da paz, do Irã para o Paquistão e a Índia, através do qual o Irã exportará este combustível para dois dos mais populosos países da região. Mas talvez a perspectiva mais irresistível para o Irã seja o gasoduto de 1.865 quilômetros que fornece gás natural do Turquemenistão através do Uzbequistão e do Cazaquistão para a China e que deve operar a plena capacidade em 2012. O Sul do Turquemenistão tem uma fronteira de 300 km com o Irã e já tem um acordo de exportação de gás com Teerã. Se o desenvolvimento do campo gasista iraniano-chinês de South Pars puder ser incorporado nos gasodutos  transnacionais acima mencionados, isso confirmaria o Irã como o coração pulsante da economia mundial na qual o gás é a fonte de energia primária. Isto é potenciado ainda mais pela procura de gás da China, em crescimento rápido, a qual a EIA prevê que podia estar dependente de importações em mais de um terço do seu consumo de gás natural em 2030.
 
Neste contexto de um grande realinhamento da economia energética mundial – no qual haverá uma diminuição contínua do papel dos EUA – a retórica tronitroante de Washington acerca de democracia e paz e guerra ao terror ou alegadas armas nucleares iranianas pode ser vista como uma tentativa desesperada para esconder o seu medo de que esteja destinado a ser um grande perdedor. Cercar o Irã com guerras e ameaçar o fornecimento de gás para o provável maior futuro consumidor de gás – a China – é o assunto real. As ações dos Estados Unidos são vistas mais exatamente como o encostar de uma faca nas artérias energéticas de uma economia mundial que os EUA não são mais capazes de dominar.
 
Um novo aspecto desta história é a posição da Rússia. Com as suas próprias vastas reservas de gás natural, ela pode ser vista como um competidor do Irã. Comprovadamente menos bem posicionada do que o Irã para o fornecimento tanto à Europa como à China, a Rússia é, no entanto um grande ato e tem estado insistentemente a cortejar a China com um acordo de exportação desde 2006. Contudo, como observa Economides, "as negociações entre os dois países tem sido intermitentes e, especialmente, a construção do gasoduto tem sido penosamente lenta".
 
Mas as ambições da Rússia em expandir as suas exportações de gás natural podem explicar porque ela tem mostrado ser um aliado caprichoso do Irã. A posição ambivalente de Moscou em relação a sanções dos Estados Unidos contra o Irã sugere que a Rússia tem a sua própria agenda destinada a embaraçar a república islâmica como um rival regional na energia

sábado, 20 de março de 2010


Filha de Che diz que mídia cria personagens para caluniar Cuba

A pediatra cubana Aleida Guevara March, filha do líder revolucionário Erbesto Che Guevara, criticou, nesta quinta-feira (11), os grupos de direitos humanos que pedem a libertação de presos na ilha governada por Raúl Castro. De acordo com ela, Orlando Zapata, que morreu há duas semanas após uma greve de fome de 85 dias, era um 'delinquente comum'.

Aleida participou de palestra na Faculdade de Filosofia e Humanas da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Ao ser questionada sobre as greves de fome para pressionar o regime de Cuba, ela foi enfática ao afirmar que são manipuladas para prejudicar a imagem de Cuba. "São personagens criados pela mídia para caluniar Cuba. Recebem dinheiro de empresários dos Estados Unidos e Europa que são contrários à revolução cubana", afirmou.

"Normalmente, um preso faz greve de fome para conseguir sua liberdade. Mas este queria TV, telefone e cozinha. Isso é absurdo. Ele deveria ter sido tratado é por psiquiatras. Não era um preso político", disse ela sobre Orlando Zapata.

Aleida lembrou o caso de epidemia de dengue que, na década de 80, matou 101 crianças em Cuba. De acordo com a ilha, o surto foi resultante de guerra bacteriológica desencadeada por agentes da CIA. "Que associação de direitos humanos fez algo pelo povo cubano, contra aquele e outros crimes? E com que direito eles agora criticam algo sobre a soberania de Cuba?", questionou.

Médica pediatra, Aleida Guevara passou o dia de quinta-feira em Salvador e, além da palestra para universitários, ela visitou a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza (Sedes) para conhecer os projetos que ajudaram no novo conceito de desenvolvimento social, com o foco principal na quebra do ciclo geracional da pobreza, por meio de capacitação e geração de emprego e renda.

De Salvador, a filha do Che iria a Sergipe, onde participaria, nesta sexta-feira, na cidade de Umbaúba, de seminário promovido pelo Movimento dos Sem Terra (MST), com o tema "O Socialismo Frente à Crise Econômica Mundial".

Ainda em Umbaúba, ela fará a inauguração simbólica da unidade de saúde que leva o nome de seu pai, Hospital Doutor Ernesto Che Guevara. No sábado, ela participa da palestra O Papel da Militância na Construção das Transformações Sociais, que acontece no Instituto Federal de Sergipe, em Aracaju.

sexta-feira, 19 de março de 2010