quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Band também frequentou a escola do mau jornalismo23 outubro 2009
Quando vejo que vai ter alguma matéria sobre a Venezuela na imprensa brasileira, já fico cabreira. Sei que Hugo Chávez vai apanhar e que o bolivarianismo vai ser combatido. Na Band, essa semana, não foi diferente. Aliás, foi é dos piores, isso sim.
Uma série intitulada “A Venezuela sob Chávez” começou a ser exibida terça-feira, dia 20, com o sugestivo subtítulo “o medo da população em Caracas”. Tive acesso aos vídeos do Jornal da Noite, mas, pelo que entendi, foi ao ar também no Jornal da Band (entrando na seção “Vídeos” do site da Band, é só colocar “Venezuela” na busca).
Em 1989, o professor Luiz Roberto Lopez escreveu em seu livro “História da América Latina” que o continente herdou dos processos de indepêndencia, a maioria envolvendo luta armada, uma tendência à violência. A Venezuela foi um dos países que passou por um processo difícil, com várias revoltas desse tipo. Mas a Band decidiu que a violência de Caracas, a “capital mais violenta do mundo”, é culpa de Chávez. E fincou o pé.
“Cada país tem o pequeno príncipe que merece.” Foi com essa ironia que Bóris Casoy abriu a segunda reportagem da série, a pior. Intitulada “confisco de terras e a crise no campo”, diz que a Venezuela importa 80% dos alimentos que consome”. Mas não fala de onde tira a informação.
Fala de novo em medo, mas agora voltado ao campo. E é tudo culpa da Reforma Agrária, segundo a Band: “a expropriação de terras promovida pelo governo venezuelano vem destruindo postos de trabalho e também a produção de alimentos”. Foram entrevistados vários “produtores rurais” e nenhum pequeno agricultor. É óbvio que os grandes estão insatisfeitos com a redistribuição de terras, e isso é ótimo, é sinal de mais igualdade e justiça, menos concentração. Mas esse lado a Band não mostra.
“O direito de propriedade está acabando no país”, diz o repórter. Fica, para quem assiste, a informação de que o povo está perdendo um direito que ele tinha, e é evidente que essa imagem é ruim, ninguém quer perder direitos. Mas não se fala que outros estão ocupando o lugar desse, como os direitos à dignidade e à igualdade, por exemplo.
Quando a gente pensa que vem elogio, como no terceiro dia da série, sobre o baixo preço da gasolina, Boris Casoy completa que é “a custa de um rombo nas contas públicas”. Com o título “gasolina a R$ 0,07″, a reportagem fala apenas nas suas consequências negativas, como o excesso de veículos “velhos e gastões”. Pensou que a crítica viria em função da poluição gerada por eles? Nem se tocou no assunto. O problema, segundo a reportagem, é o trânsito caótico. O repórter vive, nitidamente, em uma sociedade baseada na cultura do automóvel, em que as máquinas são mais importantes que as pessoas.
Não consegui assistir o programa de hoje, mas já foi mais do que suficiente. Na série inteira, apareceu uma única menção positiva à Venezuela, e foi no primeiro dia, para dizer que o povo é alegre e bem humorado. A única boa característica da Venezuela são as pessoas, vítimas desse governo bobo e malvado. O resto da série foi só porrada. Não é forma de falar, não é exagero. Não teve mais nenhum mísero elogio à Venezuela. O único intelectual entrevistado foi um cientista político, bem no fim da série e, como todas as outras fontes, era contra o governo. A própria escolha dos temas já foi bem fraca, escancaradamente direitista, e sua abordagem só corroborou. Serviu apenas para comprovar que a Band também faz parte do PIG, expressão criada por Paulo Henrique Amorim para designar o Partido da Imprensa Golpista.

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